9 de janeiro de 2012

Retenção de mágoa: uma via para o desequilíbrio

Sabemos que as lembranças não são iguais. Enquanto algumas são vagas recordações de eventos, outras nos prendem no passado. Quando ficamos magoados com alguém, as tintas escuras e densas dessa experiência nos mantêm algemados, nostalgicamente embaçados por nós energéticos, que dificultam o fluir de energias que nos harmonizam para o viver do instante presente.
Clarissa Pinkola-Estes traz em um dos seus livros um eficaz itinerário para o perdão, que é encadeado por ações que podem ser realizadas em quatro passos, conforme a possibilidade pessoal daquele que foi ferido ou ofendido:
 1) renuncie – deixe de lado;
2) contenha-se – abstenha-se de punir;
3) esqueça – afaste da lembrança, recuse-se a insistir; e
4) perdoe – abandone a dívida.
O perdão envolve mente e coração, pois a libertação da mágoa não se dá apenas no nível intelectual, mas está associada também às dimensões físico-emocional-espiritual. Com efeito, quando perdoamos, sentimos o corpo relaxado e não mais tomado pela contração: um nítido sinal de que alguma coisa se expurgou do campo individual, libertando-nos de um peso de memória que gravitava em nosso corpo como um objeto estranho e contaminado.
O crescimento da consciência é um processo de movimento espiral e envolve, no geral, paciência e um querer obstinado. Dar atenção à saúde significa cuidar da profunda aflição de que às vezes padecemos por conta do outro, que nos feriu ou nos atingiu de alguma forma pouca amorosa ou agressiva.
E, nessas horas, no lugar da retenção em um quadro de memória dolorosa, podemos assumir a responsabilidade pessoal pelo nosso equilíbrio, largamente associado à atitude do perdão reiterado (e autoperdão!). Com sabedoria, Sócrates afirmou que os seres humanos não fariam o mal se efetivamente o compreendessem como mal; se o fazem é porque não entendem realmente o bem, pois é o bem que inspira a saúde da alma.
Eugênia Pickina 
(*) Cf. PINKOLA-ESTES, Clarissa. Women who run with the wolves: myths and stories of the wild woman archetype. Nova York: Ballantine Books, 1992, p. 370. [Há a versão do livro em português]

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